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domingo, 30 de junho de 2013

Capítulo 5 – Uma Revelação

Jake e Mary, http://jakeemary.blogspot.com, Consulta de Tarot
Foto no site.

Capítulo 5

 

Uma Revelação

 
Num fim de tarde, ainda em Venice fui abordado por uma Taróloga.
 
─ Venha fazer uma consulta comigo, meu jovem e conheça o seu destino. Saiba no Tarot o futuro que lhe está reservado.
 
─ Obrigado, mas não lhe pareça mal. Não sei o que isso é e não acredito nessas coisas, além de não ter dinheiro. ─ Respondi educadamente, tentando não ofender a cigana e querendo sair dali rápido. Estava com pressa, porque estávamos a arrumar as nossas coisas para irmos para casa.
 
─ Quem falou em dinheiro? A consulta é um presente meu para si. ─ Respondeu a cigana de grandes olhos azuis e cabelos cor de fogo. Ela era uma mulher muito bonita e sedutora. Olhei para Andy, como que pedindo ajuda para sair daquela situação. Mas ao invés disso, ele riu-se e disse divertido:

─ É falta de educação fazer uma senhora esperar! Vá, vai lá! Eu trato disto.
  
─ O meu nome é Safira. ─ Disse estendendo-me a mão e olhando-me com o seu olhar penetrante.
   
─ Jake ─ Apresentei-me, apertando-lhe a mão.
  
─ Humm, tens um aperto de mão forte. Muito bem, és forte e determinado.
 
─ Sou, sim! Como sabe? ─ Perguntei surpreso.
 
─ Sei-o pela forma como apertaste a minha mão. Vem, Jake ─ e pegou-me na mão, levando-me até a uma tenda azul celeste com um debruado dourado, contornando-a. Ainda olhei para trás, Andy, estava perdido de riso e gesticulava a dizer como era sortudo! Ele acreditava que a cigana ia fazer sexo comigo, mas eu não pensava assim. De qualquer modo, deixei que ela me conduzisse e entrei na tenda com ela.
 
Sentia-me nervoso, tenso… não sabia o que esperar daquilo tudo. Porém, inspirei e expirei fundo na tentativa de relaxar e afastar a tensão. A tenda por dentro era diferente, estava toda decorada com tons quentes. Safira acendeu um incenso, velas e indicou-me uma cadeira para me sentar, onde havia uma mesa redonda com uma toalha vermelha de cetim, que tocava no chão. A toalha tinha também planetas desenhados e bordados, entre outras figuras místicas que não reconheci.  

─ Senta-te, Jake. Descontrai, está tudo bem.  

─ Obrigado, ─ respondi sentando-me.  

Safira benzeu-se em frente a uma imagem de uma santa que desconhecia e ajoelhou-se rezando por momentos, demostrando reverência e devoção. Seguidamente, abriu uma gaveta e retirou de lá de dentro um baralho de cartas. Sentou-se na cadeira e disse-me:
 
─ Jake, pega nas cartas e concentra-te nos teus sonhos, desejos, projectos, etc. Se preferires, pensa numa pergunta e faz essa mesma pergunta mentalmente. Se quiseres, podes fechar os olhos se estiveres com dificuldade para te concentrares.
 
─ Ok… ─ respondi e fechei os olhos para concentrar-me melhor. Pensei nos meus sonhos, nas minhas metas e também nas minhas breves paixões por alguns segundos, como não queria saber de nada acerca deste assunto, afastei o pensamento. A seguir, abri os olhos.
 
─ Já está? ─ Perguntou.
 
Acenei com a cabeça respondendo positivamente.
 
─ Óptimo, agora dá-me as cartas para baralhá-las.
 
Obedeci. Durante alguns momentos baralhou as cartas e depois, pousou o baralho sobre a mesa e mandou-me cortá-las com a mão esquerda, movimentando a mão, da esquerda para a direita. Mais uma vez, obedeci. Safira, viu as cartas que tinham saído no corte e depois tirou do primeiro monte 5 cartas, posteriormente, retirou mais 5 cartas do outro monte e predispô-las em forma de cruz. Parecia-me uma cruz celta, esta era-me familiar, dadas as minhas origens irlandesas. A seguir, reuniu o baralho e observou o que estava na mesa, após voltar todas as cartas com a face para cima.
 
─ Jake, és um jovem determinado, corajoso e sonhador. Geralmente, consegues concretizar os teus sonhos quando te tornas paciente e ponderado.
 
─ Sim, é verdade. ─ Retorqui afirmativamente. Depois calei-me para ouvir o que Safira tinha para me dizer.
 
─ Contudo, a tua impulsividade e falta de ponderação deitam tudo a perder… Tens um espírito guerreiro, que te impulsiona a lutar na vida, seja em que área for. Mas precisas aprender a ganhar e a perder, pois nem sempre as vitórias são exactamente vitórias, tal como as derrotas não são completamente derrotas.  

─ Desculpe, como assim? ─ Perguntei confuso.
 
─ O que quero dizer é que muitas vezes, alcança-se vitórias com derrotas e vice-versa. Porque quando nos entregamos a Deus e entregamos-Lhe as rédeas da nossa carruagem que vai no caminho errado, onde sofremos acidentes e despistamo-nos, Ele muda a rota e coloca-nos no caminho certo. Só precisamos confiar. Estás a compreender?  

Ia dizer-lhe que não tinha a certeza se a estava a compreender, mas ela não me deixou falar e prosseguiu com a sua interpretação. Aparentemente, as perguntas eram de retórica e portanto, era desnecessário responder-lhe… Bom, pelo menos em relação àquela pergunta. Assim, limitei-me a ouvir o que ela tinha para dizer-me. Sentia ser importante.  

─ No entanto, vejo aqui que estás num bom momento espiritual e que nos últimos tempos tens-te desenvolvido bastante nesta área. Brevemente, vais concretizar dois sonhos. Um é um sonho consciente e pelo qual tens lutado muito, o outro é uma coisa que sonhas enquanto te encontras a dormir profundamente e do qual, não tens consciência. Este tem a ver com uma mulher…  

─ Uma mulher?! Talvez a minha Mãe, não sei… ─ Interrompi, pensativo.  

─ Não, é uma jovem mulher. É um amor do passado que volta, o Tarot mostra ser um reencontro amoroso…
 
Não fazia a mínima ideia do que Safira estava a falar. Namoricos, já tivera, sim. Porém, nada de importante. Quanto ao amor verdadeiro, isso não tinha ainda acontecido. Então, encolhi os ombros para demonstrar-lhe que estava completamente a milhas do que ela estava a dizer.
 
─ Um reencontro amoroso?! Não estou mesmo a ver quem possa ter sido. ─ Disse mostrando indignação e a cigana, fitou-me com os seus grandes olhos azuis continuando:
 
─ Esta mulher é muito importante para ti, ela é o amor da tua vida. É um amor de vidas passadas.
 
─ Ah, ok, pronto, está explicado! ─ Disse exclamando. Não acreditava nessas novas teorias que falavam em reencarnação, achava que era tudo treta.
 
Safira, percebeu o meu cepticismo e argumentou:  

─ Vejo que não acreditas em reencarnação, mas quando reencontrares esta mulher até essa tua descrença vai desaparecer. Vais mudar muito, ela vai levar-te a fazer mudanças grandes e inesperadas na tua vida.
 
─ Hmmm, hmmm, ok. ─ Fingi acreditar.
 
─ Isto vai ser para breve, os planetas já se estão a alinhar. Quando fizerem o aspecto perfeito, ela aparecerá na tua vida. Inicialmente, não vais saber mas com o passar do tempo, vais perceber. Mantém-te aberto, não te esqueças disto. Deixa-me ver só ver uma coisa aqui na Bola de Cristal.

"Olá..., bola de cristal?! Seria possível mesmo?", questionei-me em pensamento sobre tal possibilidade. Safira, pegou na bola, passou as mãos e olhou por alguns segundos. Inesperadamente, deixou-a e disse-me que a consulta terminara. Estranhei a reacção dela e perguntei se estava tudo bem. Ela respondeu que sim, evitando o meu olhar e repetiu que a consulta tinha terminado indicando-me, por sua vez, a saída da tenda. Eu obedeci.

Regressei até à praia, Andy esperava-me, já com o Chevy carregado para regressarmos a Huntington.

Porque terminara ela tão abruptamente a consulta? O que teria ela visto na bola de cristal que a assustara? E que mulher seria esta?! Que tipo de mudanças irá ocorrer na minha vida quando a conhecer? Serão mudanças positivas, ou negativas? Perguntas e mais perguntas... Se antes da consulta era um rapaz seguro e cheio de certezas, agora estava diferente. Estas perguntas pairavam no meu espírito inquietando-me estranhamente...


CONTÍNUA NO PRÓXIMO CAPÍTULO...
(Próximo Capítulo a Publicar: Domingo, dia 7 de Julho de 2013)
 
 

domingo, 23 de junho de 2013

Capítulo 4 – Praia de Venice

Jake e Mary, http://jakeemary.blogspot.com, Praia de Venice, California, Venice Beach, Los Angels
Foto da praia de Venice neste site.

Capítulo 4

Praia de Venice

 
Um dia após o diário e intenso treino, inesperadamente Andy aborda-me e diz:

─ Puto, prepara as tuas coisas que amanhã vamos para a Praia de Venice. Vai decorrer um campeonato de surf depois de amanhã e tu estás apto para participar!

─ A sério? Fiiiixe! Mas Andy, tens a certeza de que estou apto?

─ Claro que sim! Tens dúvidas?

─ Sei lá…

─ Mau, será que “O Destemido” é um mito?! ─ Disse Andy com ar provocador.

─ Lógico que não! Embora lá, meu. E a que horas vamos nós? ─ Perguntei entusiasmado.

─ Vamos de madrugada, três da manhã. Acampamos na praia e dormimos o resto da noite lá.

─ Parece-me uma boa ideia! Nunca saí daqui. Quanto tempo é até lá?

─ É mais ou menos 1h40 minutos.

─ Não é longe!

─ Nop, faz-se bem o caminho. Vou mostrar-te aqui no mapa. O ponto A, é onde nós estamos e o ponto B, é para onde vamos. ─ Disse indicando-me o caminho no mapa.



─ Porreiro! ─ Respondi. ─ Olha lá e porque é que vamos um dia antes?
 
─ É para te ambientares e inscreveres-te.

─ Ok, fixe.
 
─ Então, vá puto, vai lá tratar das coisas e sê pontual. Ok?

─ Ok, Andy.
 
─ Fica bem, puto.

─ Tchau.
 
Caminhei até a casa, animado mas pensativo. Nunca tinha deixado a minha Mãe sozinha. Esta seria a primeira vez. Será que ela ia lidar bem com isto? Bem, isto não ia ser com certeza nenhum drama. Estava a exagerar. A minha Mãe e eu éramos muito unidos, tínhamos um óptimo relacionamento, como já disse anteriormente. Nunca tivemos zangas, ou discussões feias. Apoiávamo-nos mutuamente. Ela era uma mulher forte e uma vencedora, teve-me com 17 anos, a minha idade, portanto e criou-me sozinha. O meu pai tinha morrido num acidente de viação 6 meses após o meu nascimento. A minha Mãe chamava-se Ciara O’Malley, um nome originário da Irlanda, pátria dos seus pais, que emigraram para os Estados Unidos da América, a terra das grandes oportunidades com a finalidade de se estabilizarem na vida no pós-guerra e assim foi.

Apesar dos seus 33 anos e da vida problemática que tinha tido, a minha Mãe conseguiu conservar o seu aspecto jovial. Ela era ainda uma mulher muito atraente. Onde quer que fosse, os homens olhavam-na e desejavam-na. Tinha olhos verdes, cabelos castanhos-avermelhados longos, pele branquinha com algumas sardas no rosto e era de estatura mediana. O seu temperamento era forte, mas doce e carinhoso ao mesmo tempo. Tinha sempre uma palavra amiga para dar quando encontrava alguém triste e geralmente, era muito bem-humorada. Sempre divertida.
 
Tinha herdado da minha mãe a nível físico o verde dos seus olhos, o seu sentido de humor, a persistência e a sua determinação. Do meu pai, tinha herdado fisicamente o cabelo loiro e a pele de tom dourado, mas também a teimosia. A minha Mãe, não falava muito nele, penso que no fundo ainda não tinha conseguido aceitar a sua morte e nem o houvera esquecido. Desde criança que sempre que perguntava por ele que notava a imensa tristeza no seu olhar, apesar dela tentar disfarçar. Porém, também lhe notava uma revolta que não conseguia compreender porquê. Então, deixei de fazer perguntas e de lhe pedir para me falar no meu pai. Assim, pouco ou nada sabia dele. Sabia apenas que gostava do mar e de surf como eu, que era todo musculado, corajoso e que se chamava Owen Moore.

─ Mãe? ─ Chamei ao entrar em casa.
 
─ Sim, filho, estou no ateliê a pintar. Anda cá.

─ Está lindo, Mamã! ─ Exclamei admirando o óleo. Era a praia de Huntington ao luar.
 
─ Achas, Amor? Ainda não está como eu quero.

─ Está perfeito, Mamã! ─ Respondi com sinceridade, sentando-me no sofá.
 
─ Disparate, são os teus olhos. Nada é perfeito. É verdade, hoje chegaste cedo! Que se passou? Não há ondas?!

─ Nada, está tudo bem… ─ Respondi com um tom preocupado, pelo que a minha Mãe notou imediatamente que algo me preocupava.
 
─ Jake, o que se passa? Estás preocupado com quê?

─ Ok, vou ser directo. Vai haver um campeonato de surf em Malibu, na Praia de Venice. O Andy diz que estou preparado. Partimos esta madrugada. O campeonato começa depois de amanhã e dura 5 dias.
 
A minha Mãe ouviu-me em silêncio e assim permaneceu, após contar-lhe tudo. Olhei para ela que continuava a pintar e esperei que dissesse alguma coisa, como não disse nada perguntei-lhe:

─ Não dizes nada?
 
─ Para quê? Já decidiste. Vai! Vai ser bom para ti.

─ Estás chateada, Mamã?
 
─ Não filho, está tudo bem e vai correr tudo bem. Não te preocupes.

Corri para ela abraçando-a e peguei-a ao colo exclamando:
 
─ És a melhor Mãe do mundo! ─ Disse enchendo-a de beijinhos.

A viagem no Chevy Truck verde-escuro de Andy, para a Praia de Venice correu bem. Não houve qualquer problema, conversamos e ouvimos boa música que passava na rádio. Apesar de ser uma camionete usada e de 1960, estava bem estimada. Não tinha muita quilometragem e Andy, sabia cuidar dela. Da Praia de Huntington, até à Praia de Venice, eram cerca de 46,2 milhas, ou seja 74,3 km. Levamos pouco mais de 2h a chegar, nada mau! Chegamos a Venice ainda não tinha nascido o sol, pelo que passamos o resto da noite a dormir dentro da camionete.
 
A praia de Venice, era lindíssima. A areia era quente e o mar com as suas enormes ondas azuis, convidavam os surfistas a cavalgar na crista das ondas. Venice era o sonho de Abbot Kinney, um fabricante de cigarros que sonhava recriar uma nova Veneza, de Itália, no Oceano Pacífico. No início do século XX, fundou uma Comunidade à beira-mar ─ repleta de canais e onde se ergueram hotéis, restaurantes, bares, teatros, etc. Actualmente, é conhecida como a Veneza da América. Esta foi a primeira cidade inaugurada a 4 de Julho de 1905, ficando marcada como Coney Island of the Pacific.

O surf era de facto a minha paixão, o meu refúgio. Surfar era como um renascer das cinzas para mim. O céu e o mar azul, faziam-me sentir no paraíso. O meu primeiro campeonato de surf, correu bem. Consegui fazer alguns drops ─ (descer as ondas) bem-feitos, desenhando-as com os braços. Mas tubos, não consegui fazer nenhuns. O Andy diz que sei dropar muito bem e aprendi a fazê-lo sozinho. Fiquei qualificado na 4ª posição, tendo sido considerado a revelação do campeonato. Não ganhei, mas o importante não é vencer e sim participar. Fiquei feliz!
 
 
CONTINUA NO PRÓXIMO CAPÍTULO...
(Próximo Capítulo a Publicar: Domingo, dia 30 de Junho de 2013)
 
 




domingo, 16 de junho de 2013

Capítulo 3 – Surfar, Surfar, Surfar

 

Capítulo 3

Surfar, Surfar, Surfar

 
A minha primeira aula de surf correu muito bem, cheguei um pouco antes da hora combinada devido à ansiedade. Mal dormira nessa noite, apesar de me ter deitado cedo. Mas estava demasiado excitado com as aulas e por ter o meu ídolo como instrutor de surf.

Andy chegou à hora marcada. Era um homem alto, musculado, tinha o cabelo louro pelos ombros com algumas cãs já à vista e os olhos claros azulados, davam-lhe um ar amigável. O corpo bronzeado aparentava um tom quase dourado, combinando harmoniosamente com o seu estilo de surfista, ainda que estivesse retirado. Aproximou-se de mim coxeando. A experiência com o grande tubarão branco marcara-o para o resto da sua vida. Levantei o braço saudando-o e, assim que me viu em pé, observando o nascer do sol no horizonte exclamou:

─ Então, muito bom dia! És pontual, gosto disso! ─ Disse dando-me uma palmada no ombro.

─ Bom dia, Andy! ─ Respondi animado.

─ Ora bem, antes de pegares na prancha e ires apanhar uma onda, quero falar contigo e fazer-te algumas perguntas. Pode ser?

─ Ok, Andy.

─ Óptimo! Então, diz-me lá quais são os teus objectivos em relação ao surf?

─ Bem, quero tornar-me surfista profissional.

─ Muito bem e porquê?

─ Porquê? Bom, porque quando estou dentro de água sinto que estou no meu ambiente natural. Sinto que faço parte do oceano como se fosse uno com ele, percebes? Quando estou chateado, ou tenso em relação a alguma coisa venho para aqui e fico em paz com o mundo.

─ Hmmm, interessante, eu também sentia isso. Não sei se sabes mas surfar, não consiste apenas em vir acalmar os ânimos. Surfar, exige que nós estejamos equilibrados, concentrados e abertos para o mundo.

─ Abertos para o mundo? O que queres dizer com isso?

─ Quero dizer que um surfista, pertence ao mundo. Nada é teu, mas o Todo é de todos. Quero dizer também que devemos estar conscientes, com a mente no presente e igualmente receptivos à energia que nos rodeia. Já notaste que tudo à nossa volta é energia? O sol, o vento, o mar… São uma energia viva e poderosa. Nós também somos energia e fazemos parte desse Todo! Entendes? Por outras palavras, se estivermos de bem connosco próprios, estamos também de bem com o universo e emitimos uma boa vibração. Estás a perceber, Jake?

─ Sim, estou. Eu também vejo o surf dessa maneira.

─ Óptimo! Então, quando fores apanhar uma onda deixa-te envolver e sente. Nem todas as ondas são boas, mas a tua energia atrai para ti a onda perfeita. O surf é uma prática espiritual.
 
─ E como é que eu sei qual é a minha onda perfeita? ─ Perguntei meio indignado.

─ Simples, sentes, Jake! Quando a onda for a “tal”, “A tua Onda”, tu vais sentir aqui e aqui. ─ Disse Andy, tocando-me primeiro com o dedo indicador direito no peito, indicando o coração e depois na fronte, indicando a mente. ─ Mas a onda não é propriamente tua, tu não a possuis. A onda, está ali apenas para te proporcionar uma experiência. Na vida também é assim. Nada nem ninguém nos pertence, entendes?

─ Acho que sim, que entendo, mas isso que estás a dizer em relação às pessoas é confuso e na prática, penso que não conseguimos agir assim.
 
─ Consegue-se e tu, se estiveres de mente aberta e quiseres, também consegues. Querer é poder e para o amor, só precisas de amar. Mas adiante… Outra coisa que te quero dizer é que se queres realmente ser surfista, deves estar disponível. Sempre. Dificilmente poderás praticar surf e estudar, ou mesmo ter um emprego fixo, estável. Porque de vez em quando terás de viajar e procurares bons locais para surfar. Iremos andar por aí e não saberemos ao certo quando voltaremos. O surf é assim.

─ Ok.

─ Outra coisa, precisas de fazer elevações, flexões para ganhares força nos braços e agilidade para quando estiveres no mar conseguires remar, e também levantares-te rápido sobre a prancha.

Seguidamente, Andy analisou a minha prancha. Era uma longboard. Deu-me uma palmada no ombro e disse:

─ Tens aqui uma boa prancha. Estima-a como se ela fosse tu, como se tu fosses ela, Jake. Vocês são unos. Se fores realmente bom, faço-te uma fish. As novas pranchas fish, cortam melhor as ondas e proporcionam maior controlo, são mais dinâmicas por terem duas quilhas, percebes? Mas vá, vai para a água e mostra-me o que sabes fazer!

E eu fui, as ondas naquela manhã estavam espectaculares, enormes, perfeitas! Quando acabei, Andy exclamou:

─ Nasceste para isto, puto! De facto, pareces ter um dom natural. Parabéns, pá!

─ Obrigada, ─ respondi surpreendido.

E foi assim que começou a minha odisseia com a prática do surf. Durante duas semanas, estive mais tempo dentro de água a treinar, que em terra a fazer outra coisa qualquer, seguindo a orientação de Andy. Quase não ia a casa, a não ser para dormir e na hora das refeições. Felizmente estava de férias. Foi desta maneira, que me tornei muito bom no surf, segundo ele. Assim, com o passar do tempo, Andrew e eu tornámo-nos bons amigos, mas mais do que isso, tornámo-nos confidentes um do outro.

Ele era um homem muito experiente, tinha tido imensas mulheres, muitas delas, casadas. Andy dizia que não tinha feitio para estar casado e ter um relacionamento monogâmico, simplesmente não conseguia ser um homem de uma mulher só. Havia tantas mulheres pelo mundo… Sozinhas, ou acompanhadas, não fazia diferença. Porque mesmo estando casadas, muitas estavam sozinhas. A solidão, era uma das piores experiências que um ser humano poderia ter e Andrew Johnson, sabia o que era estar só. Portanto, tentava viver ao máximo a vida e com o mínimo de contrariedades.

─ Sabes, Jake, o amor é um sentimento muito complicado de gerir. Quando surgem sentimentos que nos fazem pensar só numa pessoa, estamos tramados! Isto é um dos primeiros sinais do amor.

─ Então, porquê? ─ Perguntei ingenuamente.

─ Porquê?! Que raio de pergunta, pá, quando a resposta é tão óbvia! Imagina a coisa assim: tens um prato com muitos bolos, mas são todos diferentes. Cada um, mais delicioso que o outro e no entanto, só podes comer apenas um e só daquele o resto da tua vida! O que escolheres, está escolhido e não podes voltar atrás. Com as mulheres, é assim, casaste e acabou. Vais estar sempre com a mesma mulher, que entretanto, vai perdendo a vontade para ter sexo… Acabas por te chatear e ficar enjoado dela, não?! Porque afinal não há variedade! Entretanto, tu estás sempre com aquela vontade e encontras outras pessoas que sentem tanta vontade quanto tu! O melhor, é seres solteiro e estares disponível, não te parece? Por isso, digo-te: “goza a vida e não permitas que seja ela a gozar contigo”, por outras palavras, não te apaixones. É só dores de cabeça, puto!

Este era sempre o conselho que o Andy me dava, especialmente, após beber umas cervejas… Depois chorava compulsivamente até adormecer. Geralmente, nunca se lembrava de nada no dia seguinte e também, nunca falávamos nestes assuntos sem ser ele a abordá-lo. Mas a cada dia que passava, eu apercebia-me de que algo de muito triste tinha acontecido com Andy, só não sabia ainda o que era. Suspeitava de que ele tivesse tido um grande desgosto de amor, porque quando falava em relacionamentos e em mulheres, era com mágoa. Quem seria ela?

CONTINUA NO PRÓXIMO CAPÍTULO…
(Próximo Capítulo a Publicar: domingo, dia 23 de Junho de 2013)
 


domingo, 9 de junho de 2013

Capítulo 2 – Tubarão Solitário


Capítulo 2


Tubarão Solitário

 
Certa tarde, um surfista veterano aproximou-se de mim e deu-me algumas dicas avançadas, o seu nome era Andrew Johnson e a sua alcunha era “Tubarão Solitário”. Este homem era o meu ídolo, uma lenda viva do surf! Chamavam-lhe assim, porque ele andava sempre sozinho e, porque tinha enfrentado um grande tubarão branco enquanto surfava ao pôr-do-sol certa vez, escapando com vida, apesar de ter sido mordido numa perna. A prancha fora literalmente comida, tendo ido parar ao estômago da temerária besta com quase 6,5 metros de comprimento. Quando o tubarão se preparava para atacar, Andrew pontapeou-o intensamente na cabeça e este, acabou mesmo por mordê-lo numa perna. Então, quando o tubarão voltou a abrir a enorme mandíbula, Andrew desesperado, atirou-lhe rapidamente com a prancha para a boca e nadou com dificuldade para uma embarcação da guarda costeira americana que, por sorte estava perto. Foi então que Andrew ficou com a alcunha de “Tubarão Solitário”. A guarda costeira acabou por matar o animal salvando Andrew, mas o surfista perdera muito sangue estando entre a vida e a morte.

Duas semanas depois, Andrew, ou melhor, o “Tubarão Solitário” teve alta do hospital e voltou para casa, mas nunca mais voltou a surfar. O trauma permanecera na sua memória e a sua perna deformada do ataque do tubarão, não o deixavam voltar ao mar. No entanto, este homem tornou-se uma celebridade nestas paragens ganhando o respeito e a admiração de toda a gente. Abriu uma loja de pranchas de surf. Nesta loja vendia as pranchas e nas traseiras desta, tinha uma oficina onde as fazia e as reparava.

Um dia, passei pela loja dele e comprei lá a minha primeira prancha de surf. Também era lá que comprava revistas, na tentativa de me desenvolver nesta área. A minha revista favorita era a “Blue Wave” – Onda Azul, que era uma revista semanal. Trazia algumas dicas para principiantes, falava das ondas e pouco mais que isso. As outras revistas, pouco ou nada acrescentavam em relação à Blue Wave e eu, deixei de comprá-las.

Certo dia, quando estava a comprar a revista, o Tubarão Solitário abordou-me:

─ Jake, tenho andado a observar-te e vejo que te esforças imenso para aprender a surfar. Todos os dias treinas e todas as semanas compras a revista.

─ Sim, é verdade. Adoro surfar e gostaria de aprender mesmo, mas não sei como fazer. É por isso que compro a revista. Tenho aprendido muito. ─ Respondi.

─ Pois, mas já notaste que chegaste a um ponto em que a revista já te ensinou as técnicas básicas para principiantes?! O que tu precisas é de ir para o nível intermédio, percebes?

─ Perceber, até percebo mas não tenho dinheiro para me inscrever numa escola para me aprofundar.

─ Puto, com aquela revista já não vais a lado nenhum. E se eu te ensinasse? ─ Disse com uma piscadela de olho.

─ O Tubarão Solitário, ensinar-me a surfar! Uau, isso era um espetáculo!! Está a falar a sério?

─ Claro que estou, puto! Então, o que dizes? Aceitas? ─ E estendeu-me a mão.

─ Ok, aceito Tubarão Solitário ─ apertei-lhe a mão.

─ Então, começamos amanhã de manhã às 7h00. Combinado? ─ Perguntou o Tubarão Solitário.

─ Combinado, Senhor. ─ E sorri.

─ Muito bem, então vamos estipular umas regras.

─ Ok, Senhor. ─ Respondi com entusiasmo.

─ Regra número 1 e presta bem atenção, porque só digo as coisas uma vez. Não gosto de repetições, ok? Bom, regra número 1: Não me trates por Senhor, porque nem eu sou Deus, nem Sargento e nem tu tens cara de anjo, nem estás na tropa. Certo?

─ Está bem. ─ Respondi, baixando os olhos.

─ Regra número 2: Não me chames “Tubarão Solitário”, isso lembra-me do incidente com o tubarão, que como podes imaginar é algo muito doloroso de recordar! Chama-me Andy, ok?

─ Ok, Andy. ─ Respondi.

─ Regra número 3: Trata-me por tu, puto! Afinal, temos quê… 20 anos de diferença? Não é muito, pois não? Eu não sou nada dessas cenas, pá.

─ Ok, meu!

─ Boa! Gostei, dessa do “meu”.

─ Mais alguma coisa? ─ Perguntei.

─ Yeah, vê se estás aqui por volta das 7 horas.

─ Ok, combinado. Tchau, meu, até depois. ─ E saí.

Fui para casa feliz e agradecido, pois agora iria poder aprender a arte de surfar e quem sabe, avançar para a concretização do meu sonho e objectivo principal de vida: ser surfista. O sol deitava-se no horizonte e a lua na sua fase crescente, parecia sorrir anunciando momentos de alegria e de facto, era assim.
 
CONTINUA NO PRÓXIMO CAPÍTULO…
(Próximo Capítulo a Publicar: domingo, dia 16 de Junho de 2013)





domingo, 2 de junho de 2013

Capítulo 1 - Jake "O Destemido"

Jake e Mary, http://jakeemary.blogspot.com/, Huntington Beach, Praia de Huntington, surf, Califórnia
Imagem aqui.
 

Capítulo 1

 
Jake – O Destemido

 

“Jake, o Destemido”, era assim que a malta me chamava… Divertido, corajoso, aventureiro, apaixonado, intenso, honesto, justo, leal e destemido. Estas eram as características mais marcantes da minha personalidade e também, as que melhor me definiam como ser humano. Muito sociável, fazia amizades facilmente.
O meu pior defeito, talvez fosse o não saber desistir na hora certa. Desistir, não era coisa para mim. Na minha opinião, quem desistia eram os fracos e acreditava que todos os problemas tinham solução. Resistia e lutava sempre pelo que queria sem nunca desistir, enfrentando então as adversidades que me surgiam pelo caminho. Talvez por isso, a minha alcunha fosse “O Destemido”.
Porém, não era um homem que tivesse ligação a alguma religião. Não sei bem porquê, pois a minha Mãe bem que se esforçara para que fosse temente a Deus, mas eu não ligava a essas coisas. Era crente, mas não pensava nisso. Em criança, até tinha feito a 1ª Comunhão, mas depois não quis continuar mais. A minha Mãe ficou muito abalada e embora, não concordasse comigo, aceitou. No entanto, éramos muito próximos.
O que eu gostava mesmo, era de surfar. Adorava o mar e passava os meus tempos livres na praia, desenvolvendo a minha habilidade a manobrar a prancha nas ondas. O interessante, era que tinha aprendido e aprofundado esta capacidade praticamente sozinho, observando os surfistas mais experientes na praia e lendo a revista “Blue Wave” –, Onda Azul.
O meu sonho era tornar-me surfista profissional e conhecer todas as praias com ondas boas para a prática de surf: praias havaianas, australianas, neozelandesas, as praias do Taiti, Haiti, etc. Queria conhecer o mundo em cima duma prancha de surf. Queria conhecer pessoas de todo o tipo, diferentes, ou comuns, originais, interessantes, mas o importante era conhecer pessoas. Estar entre gente. Afinal, eu era um cidadão do mundo.
Mas primeiramente, queria participar do próximo campeonato em Los Angeles, que iria decorrer na Praia de Huntington, a minha praia. A Praia de Huntington, era uma das praias mais indicadas para a prática desta modalidade desportiva. Tinha uma extensão de 14 quilómetros e um clima suave, com ondas incríveis para surfar e não só, como também era reconhecida como a praia dos surfistas, assim como toda a cidade que se situava no Condado de Orange, no estado da Califórnia. Sentia-me um rapaz com muita sorte por viver aqui, neste lugar maravilhoso, apesar de no Verão termos ventos tão fortes, ao ponto de se transformarem em furacões.
Quanto ao amor, este, não fazia parte dos meus planos. Ainda era cedo e eu, não queria comprometer-me com ninguém. Não pensava nisso, para já. Claro que de vez em quando, namoriscava. Mas nunca me tinha apaixonado, verdadeiramente. Era uma coisa passageira, um amor de verão que dava forte mas passava depressa. Acreditava que o amor, não era para mim, pelo menos não neste momento e ponto final.


 
CONTINUA NO PRÓXIMO CAPÍTULO...
(Próximo Capítulo a Publicar domingo dia 9 de Junho de 2013)
 
 



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